Oportunidades

Galeria e museu Coleção Karandash promove debates sobre arte popular alagoana em escolas públicas de Maceió

O casal de artistas visuais Dalton Costa e Maria Amélia Vieira desenvolveu um projeto com foco no ensino de arte para crianças e jovens

16 de Março de 2021, 10:20

Eduardo Afonso Vasconcelos

Com olhar sempre voltado para a identidade e o patrimônio cultural alagoanos, os artistas visuais Dalton Costa e Maria Amélia Vieira, casal proprietário do museu e galeria Coleção Karandash de Arte Popular e Contemporânea , conceberam um projeto intitulado “Mediação do Conceito Arte popular em Plataforma digital”, contemplado no edital municipal Mestra Hilda, da Lei Aldir Blanc. A iniciativa tem como objetivo inserir o debate sobre as práticas artísticas populares do estado no currículo escolar das instituições públicas de ensino básico de Maceió, adentrando as atuais salas de aula on-line.

: Maria Amélia: 'Queremos promover contato e reflexão sobre a arte no ambiente de ensino'

“Queremos promover o contato, o entendimento e a reflexão sobre a arte no ambiente de ensino, com o propósito de estimular o alunado da rede pública, que, muitas vezes, não tem acesso a galerias, museus e outros equipamentos culturais”, afirma Maria Amélia Vieira. Para isso, ela e Dalton Costa elaboraram planos de aula que estão sendo disponibilizados para toda a rede pública. Esses planos têm como mote obras de André da Marinheira, Dona Irineia, Zezinho e João das Alagoas, que estão expostas na orla da capital, o que deve preparar terreno para o aprofundamento das discussões acerca da técnica e da história desses artistas.

João das Alagoas e seu bumba-meu-boi na praia do Jaraguá, na região central de Maceió

Vieira e Costa vêm buscando traçar semelhanças e diferenças entre as práticas de arte popular e contemporânea, fazendo as crianças e os adolescentes refletirem sobre a arte em suas múltiplas dimensões. “O objetivo é buscar sempre diálogos entre uma obra e outra, conhecendo e reconhecendo acervos de museus do mundo inteiro”, diz a galerista e artista visual. Nesse sentido, a Coleção Karandash guarda obras com o perfil ideal para os estudos dos jovens. Para quem quiser conferir os detalhes, nas redes sociais da galeria (YouTube, Facebook e Instagram) vem sendo produzido um vasto conteúdo sobre o projeto.

O rebuscado leão de André da Marinheira no Pontal

Desde 1985, o casal Dalton e Maria Amélia está à frente da Karandash, montada a partir da coleção de peças de arte popular que adquiriram em suas andanças pelo Nordeste e outras regiões do país. Em 2010, a galeria ganhou uma extensão às margens do rio São Francisco, o barco-museu No Balanço das Águas, com acervo próprio e exposições itinerantes. Isso permitiu iniciar um diálogo ainda mais íntimo com artistas locais, consolidando um processo de educação patrimonial em 15 comunidades ribeirinhas entre Alagoas e Sergipe. Esse projeto já atendeu mais de duas mil pessoas e descobriu diversos talentos.

Em janeiro do ano passado, o povoado Ilha do Ferro, localizado às margens do São Francisco, no município de Pão de Açúcar (distante 230 km a oeste de Maceió), recebia o barco-museu para o início do 1º. Percurso Criativo Ribeirinho, projeto contemplado pelo Prêmio Darcy Ribeiro 2019 do Instituto Brasileiro de Museus (o Ibram). No entanto, o avanço da pandemia do novo coronavírus em todo o país adiou a iniciativa de ampliar o acesso à cultura para as crianças da comunidade, o que só pôde se concretizar no segundo semestre de 2020.

Dalton diz que 'a arte pode gerar novas possibilidades de vida'

A Ilha do Ferro guarda uma quantidade impressionante de artistas, entre escultores e bordadeiras, como Mestre Aberaldo, Domingos Sálvio, Valmir Lima, Faguinho, Zé Crente e Dona Morena. Sem falar em Fernando Rodrigues (1928-2009), pioneiro das famosas esculturas em madeira produzidas pelos artistas do povoado. O 1º. Percurso Criativo Ribeirinho estabeleceu como foco a interação com crianças e jovens, com objetivo inicial de promover visitas guiadas aos ateliês dos artesãos locais e, tomando por base as obras visitadas, iniciar oficinas que abordassem técnicas de desenho, escultura, pintura, colagem, assemblage etc. 

A chegada da pandemia impôs a necessidade de reelaboração da proposta, que passou a funcionar em formato on-line, com a disponibilização de conteúdos em vídeo e de um kit com materiais artísticos para a realização da oficina em casa. Em dezembro, a ação reuniu as crianças participantes na Associação das Bordadeiras de Ilha do Ferro para a produção de pinturas em tela que foram agrupadas posteriormente em exposição virtual disponível no Facebook. 

Dalton Costa acredita no propósito de fazer com que os jovens “percebam que a arte pode gerar novas possibilidades em suas vidas”. “Melhorando sua autoestima e entendendo que o seu lugar tem potencial, história e valor”, pontifica o artista. Para Maria Amélia, “apresentar a arte com suas possibilidades criativas já na primeira infância possibilita crescimento, conhecimento, amplia horizontes e estimula a reflexão e a criticidade”.