Cultura

Flora interpreta suas canções confessionais e clássicos brasileiros e internacionais

Cantora e compositora, que lançou o álbum 'A Emocionante Fraqueza dos Fortes' em 2020, se apresenta nesta quarta-feira (18), em Maceió; em entrevista exclusiva, fala de novas gravações e sobre o que vai rolar esta noite no restaurante Bon Vin

18 de Agosto de 2021, 01:17

Sebage Jorge/ Editor

Em 2018, Flora se apresentou em Maceió, junto com outra jovem cantora e compositora, Elisa Lemos, abrindo show de Djavan, no Centro de Convenções. Dividindo-se entre o Rio de Janeiro, onde morou com o pai, o artista visual Delson Uchôa, e Maceió, onde moraatualmente (ao menos nesse período de pandemia) com a mãe, Eva Le Campion, também artista visual, Flora lançou no ano passado, com produção de Wado, veterano da música contemporânea de Maceió — se é que podemos falar de uma música maceioense —, o álbum "A Emocionante Fraqueza dos Fortes", com uma dúzia de canções, que são, como ela diz, uma espécie de prontuário de de si mesma enquanto mulher, artista e amante (digamos). É um lindo disco de estreia, que chamou a atenção da crítica (foi indicado a "artista revelação de 2020" pela Associação Paulista de Críticos de Arte) e, quanto ao público, bem, ela recebeu mais de 150 mil cliques no Spotify.

Nesta quarta-feira (18), a partir das 20h, apresenta-se ao lado do tecladista e produtor Dinho Zampier, no bistrô e adega Bon Vin à rua General João Saleiro Pitão, 1.037, na capital, bairro da Ponta Verde. O ingresso, a R$ 50, pode ser adquirido aqui.  

Flora interpretará repertório do primeiro álbum: 'E canções que fazem parte da minha vida'

Na manhã dessa terça-feira (17), enviamos perguntas à artista pelo What'sApp, e ela, nessa correria toda de produção, às vésperas do show, respondeu no mesmo dia, à noite... E então corremos também aqui para postar essa conversa cheia de insights e reciprocidades.

Acompanhe a entrevista.

Você se apresentará acompanhada do prestigiado tecladista e produtor Dinho Zampier. A chamada na plataforma de ingressos indica “voz e piano”... É isso mesmo, piano, ou o Dinho trabalhará com synths também?

Flora — Buscamos um formato que trouxesse uma ambiência mais limpa para o local. Adaptamos as canções para esse formato voz e piano, deixando um tom mais íntimo para a noite de quarta-feira.

Ouça aqui o álbum de estreia de Flora

Você interpretará canções de seu álbum de estreia lançado no ano passado, “A Emocionante Fraqueza dos Fortes” e canções brasileiras e internacionais — que canções são essas? Qual é a sua praia na música mundo afora?

Flora — O repertório traz “A Emocionante Fraqueza dos Fortes” e canções que fazem parte da minha vida, canções que gosto de cantar e ouvir e que inclusive fizeram parte do meu processo de pesquisa. Ultimamente minha praia tem sido a música erudita e por isso o álbum novo vem com essa construção que mistura o clássico com o contemporâneo. Mas o que tenho escutado muito é Chet Baker, Julie London, Ella Fitzgerald, Erik Satie. E do Brasil eu sigo passeando entre Caetano, Gal, Maria Bethânia, Rita Lee, Chico Buarque, Ernesto Nazareth, entre tantos outros da nova geração.

“A Emocionante Fraqueza dos Fortes” é perfeito. Canções fortes e bem resolvidas, com um grande apelo estético e emocional. Fáceis de ouvir, de cantar e memorizar. Um belo começo, não é?

Flora — Todo início é bom, é gostoso, o frio na barriga. O primeiro álbum traz uma Flora bastante apaixonada, cheia de coisas por dizer, querendo se assumir enquanto tal, e isso encanta, ou assusta (risos) mas causa alguma coisa. Tem uma novidade desconcertante de quem acabou de nascer ou realizar

O segundo álbum já está sendo concluído, certo? “Saturno”... Por que esse nome? Aparentemente você se preocupa com o tempo…

Flora — Sim, o primeiro single, “Saturno”, chegará em setembro. O segundo álbum, ainda sem título. Eu diria que o tempo é a maior angústia da humanidade, desde que nos entendemos nessa dimensão espaço/ tempo, nos debruçamos em desenvolver maneiras de controlar o tempo, de viajar no tempo. Aquele desejo arquetípico da imortalidade. Eu como artista lido diretamente com a emoção: tanto a minha, quanto a do público. E lidar com a emoção é lidar com a memória e a memória é passado, mais uma vez a angústia do tempo: começos e fins. As pessoas acreditam em Deus, eu acredito no tempo, concordo ser um dos deuses mais lindos.

Com Wado, no Rio de Janeiro, em apresentação no Circo Voador

Mas você é muito jovem, ou já chegou aos 30? (risos) 

Flora — Acabei de completar 31 (risos). Finalizei meu primeiro retorno de Saturno na astrologia. 

É uma parceria pandêmica com Dinho Zampier? Quer dizer, você e ele se isolaram e gravaram tudo sozinhos? Tem participações especiais? 

Flora — É uma parceria que vem acontecendo desde meados de 2020, quando decidimos regravar “Sua Estupidez”, de Roberto Carlos e Erasmo. Fomos desenvolvendo esse encontro e agora estamos nessa imersão juntos desde janeiro deste ano. É possível que tenhamos algumas participações, ainda segredo.

Como está estruturado o álbum? Quantas faixas? E o que mudou substancialmente em relação ao trabalho anterior?

Flora — O álbum novo tem muito piano e voz, instrumentos de orquestra e um toque contemporâneo com sintetizadores em algumas faixas. A princípio não fechamos o número de faixas, mas creio que em torno de 10 ou 12. Acho que mudou tudo mas continua o mesmo. Eu costumo dizer que meus álbuns são muito confidenciais, é meu prontuário. (risos). Esse segundo vem com um gosto diferente, uma maturidade diferente. É uma outra perspectiva, parece ter sido lapidado pela razão. “A Emocionante Fraqueza dos Fortes” é pra mim um cavalo indomável, livre e bonito, por vezes agressivo e machucado, mas correndo contra o vento como se não houvesse o amanhã. O próximo álbum me sinto muito bem montada, rédeas na mão para soltar quando e como eu quiser. Há uma paciência interessante sem perder a essência do que faço. 

Sensual: como num quadro impressionista

O projeto foi aprovado pela Lei Emergencial Aldir Blanc e entrou na reserva de cota feminina, certo? Ouvi você falar de uma produção feminina… Os temas das canções são femininos/ feministas? 

Flora — Não sei ao certo quanto a questão da cota, como de fato foi aprovado, acredito que sim. Não há nada no mundo que não passe pelo feminino, a começar por um recém-nascido. Me intriga bastante o que é classificado como feminino ou feminista principalmente na música. O que faço é sobre o que sinto, vejo e vivo. Isso é feminista? Ou é humano? Não sei se me entende, mas é que tenho a sensação de que as pessoas colocam o feminismo num lugar distante, atípico, peculiar, e não é. O feminismo é político, é social, é diário, é recurso primário, é necessidade ,básica. É um pouco cansativo para uma mulher como eu ter de discutir ou ser questionada sobre algo que deveria ser intrínseco a própria vida, enquanto estou querendo falar de tantas coisas para além do binarismo ao qual somos sempre confrontadas. Tenho de perder meu tempo discutindo direitos iguais porque o mundo não entendeu ainda, compreende?

Quando será lançado o álbum e como será executado? Continuará assim em dupla, você e Zampier, ou entrará uma banda para as performances ao vivo?

Flora — Não temos uma previsão certa ainda devido às intempéries da pandemia, Isso mudou tudo e atrasou muita coisa, inclusive os meus próximos lançamentos. Buscamos iniciar os trabalhos assim em dupla, enxuto e direto. Mas temos total interesse em incrementar com banda para a performance ao vivo. Quero poder ser fiel ao disco.