Cultura

Nesse final de semana tem Leila Diniz no streaming

A plataforma de cinema do Itaú Cultural exibe 'Já que Ninguém me tira para dançar', documentário de Ana Maria Magalhães sobre a icônica atriz fluminense; nesse sábado e domingo (15 e 16), no horário das 19h às 23h

14 de Janeiro de 2022, 16:33

Da Redação

Nesse sábado e domingo (15 e 16), no horário das 19h às 23h, a plataforma de cinema do instituto Itaú Cultural exibe “Já que Ninguém me tira para dançar”. Único documentário longa-metragem sobre a atriz niteroiense Leila Diniz (1945-1972) — que fez história na TV e no cinema, tornando-se referência de mulher sedutora e independente num Brasil conturbado e amedrontado pela truculência do regime militar —, o filme é dirigido por uma amiga da artista, a também atriz Ana Maria Magalhães. 

"Já que Ninguém me tira para dançar" mistura imagens de filmes com fotos e cenas ficcionais vividas por Leila Diniz, no filme interpretadas em tempos diversos por Lídia Brondi, Louise Cardoso e Lígia Diniz. “A produção", destaca o informativo do Itaú Cultural enviado à Redação, "forma uma paleta que reafirma porque a atriz se tornou um ícone brasileiro. Por um lado, influenciadora de toda uma geração, por outro, rejeitada pelos generais e militares, além da sociedade conservadora vigente no país naquele período de ditadura.”

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De acordo com o press-release, após as sessões desse final de semana, o longa voltará ao cartaz no Itaú Cultural Play no dia 25 de março, data em que Leila Diniz completaria 77 anos. “Ele integrará uma mini mostra com produções das quais a atriz participou: ‘A Madona de Cedro' e 'Corisco, o Diabo loiro', ambos dirigidos por Carlos Coimbra — o primeiro em 1968 e o segundo realizado um ano depois — e 'O Homem nu', sob direção de Roberto Santos, também em 1968.” 

Magalhães: 'Uma atriz que valorizou a verdade, a liberdade e o amor'

Ana Maria Magalhães, que atuou em clássicos do cinema nacional (“Como era gostoso o meu Francês”, 1970, de Nelson Pereira dos Santos; “A Idade da Terra”, 1980, de Glauber Rocha), começou a rodar “Já que Ninguém me tira para dançar” em 1982. Não conseguindo finalizar a produção, retomou o projeto com o apoio de amigos e do instituto Itaú Cultural, e a co-produção do portal de notícias Metrópoles, lançando-o em mostras de cinema no ano passado. A diretora diz que o filme “mostra o modo de ser e de viver dos artistas e das jovens brasileiras nos anos 1960, plenos de entusiasmo e ingenuidade”. “As novas gerações não sabem quem foi Leila, uma atriz que valorizou a verdade, a liberdade e o amor, porque acreditava que as pessoas podem realizar as suas melhores potencialidades e não as piores.” 

De acordo com o Itaú Cultural, “a liberdade de Leila — que, por exemplo, posou para uma foto de biquíni aos oito meses de gravidez e falava sem censura sobre todos os temas, até a respeito de sua sexualidade — era incompreendida não somente pelos conservadores e militares, mas, também, pelas feministas da época”. “Outro trecho do filme, a célebre entrevista que ela deu ao jornal Pasquim, em 1969, evidencia isso ao revelar as ondas de indignação que provocou nesses dois lados.”

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Ana Maria Magalhães recebeu o convite para dirigir o filme em 1982, dez anos depois da morte de Leila Diniz. Mas afirmou não se sentir distante o suficiente da amiga para realizar um filme "dessa envergadura”. “Por outro lado”, lembra a diretora, “tinha consciência da importância de transmitir o legado de Leila, sabia que seus amigos poderiam expor cada uma de suas facetas, e acabei aceitando a missão porque conhecia muito bem o seu modo de pensar, agir e se relacionar.”

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Assista ao trailer do filme de Ana Maria Magalhães

A produção, que já contava com imagens e depoimentos de diretores de cinema, atores, jornalistas e familiares, foi interrompida por questões orçamentárias, que eram de responsabilidade do Centro Cultural Cândido Mendes, idealizador do projeto. A despeito das dificuldades, Ana Maria Magalhães continuou trabalhando, contando com a ajuda de amigos, como o cineasta Walter Salles — que emprestou sua câmera ao fotógrafo José Guerra — e os titulares da produtora Olhar Eletrônico, Marcelo Machado e Fernando Meirelles, que montaram o documentário.

"Já que Ninguém me tira para dançar" foi produzido originalmente em U Matic e depois restaurado. “Agora, entrevistas e novas gravações juntaram-se às originais, de 1982, e foram recém digitalizadas”, explica o informativo do Itaú Cultural. “Finalizado em HDTV, ‘Já que Ninguém me tira para dançar’ resgata a participação de Leila Diniz na cultura moderna, defensora das mulheres durante os anos mais duros da ditadura militar. Ela morreu aos 27 anos em um acidente de avião na Índia, quando voltava de um festival de cinema na Austrália, onde recebeu o prêmio de melhor atriz.”