Cultura

Orquestra reprisa seu bem sucedido 'Cine Filarmônica' no Teatro Deodoro

Conjunto de 52 músicos fundado em 2017 realiza segunda sessão nesta terça-feira (10), às 20h; em entrevista ao site, regente e diretor artístico Luiz Martins diz que programa é 'excelente' para um público 'sedento por clássicos do cinema'

10 de Maio de 2022, 11:28

Sebage Jorge/ Editor

A cada apresentação da Orquestra Filarmônica de Alagoas, aparentemente, ela se torna mais forte, mais e mais querida pelo público. Não raro seus concertos, desde 2017, quando foi criada, são reprisados por exigência de seus fiéis, novos e velhos admiradores. Há duas semanas, na noite de quinta-feira (28), o conjunto de 52 músicos retornou ao palco do Teatro Deodoro, após um lamentável período de quarentena, com um projeto especial, já conhecido dessa plateia afeita a nossa louvável e renitente produção de música clássica e erudita, o “Cine Filarmônica”, chegando a sua terceira edição. E nesta terça-feira (10), às 20h, vai ter reprise. 

O sucesso do projeto, é claro, é de todos os batutas que compõem essa maravilha da cena musical erudita, contemporânea, de Alagoas. Mas um nome precisa ser destacado, não somente por ser o regente da banda, mas porque, afinal, como seu diretor artístico, Luiz Martins sabe conduzir a coisa toda. E essa abençoada filarmônica, haja visto, tem dados sinais irretocáveis não apenas de resistência, mas, também, de sabedoria para driblar as dificuldades e vencer. Pois que assim seja.

Na quinta-feira (28), filarmônica voltou ao Teatro Deodoro/ Foto/ Paulo Canuto

Os ingressos para esse novo concerto no Teatro Deodoro (rua Barão de Maceió, s/n, centro da capital), a R$ 30 e R$ 80, podem ser adquiridos aqui. E para conhecermos um pouco mais de Martins, 37 anos, músico cheio de garra e esperança, alagoano de Maceió, viajado, premiado e com um talento e criatividade postos à prova todo o tempo aqui nesse rincão onde a arte e a cultura têm de dar um duro danado para sobreviver — quanto mais prosperar —, nós o entrevistamos. Acompanhe a conversa com o maestro.

Trilhas de filmes como 'Harry Potter' estão no repertório/ Foto/ Canuto

Fale um pouco da orquestra. Como foi a formação dela há quatro anos e de quem foi a iniciativa. Quantos componentes ela tem hoje e qual é o foco principal de atuação?

Luiz Martins — Nossa Orquestra Filarmônica de Alagoas foi idealizada em 2017 por iniciativa de músicos locais, em especial João Luiz Soares e Thiago Amaral, que tomaram a frente dos trabalhos. Eu morava em Portugal, pois estava no mestrado em regência. Recebi com muita alegria e entusiasmo o convite por telefone para assumir a direção artística e regência. Em geral os instrumentistas possuem seus instrumentos para tocar, enquanto maestros não têm onde praticar senão em frente a uma orquestra. Por isso “estar” maestro é diferente de “ser” maestro. É transitório. Por isso, antes de maestro, eu sou músico. É contraditório? A nossa orquestra possui hoje 42 músicos cooperados e dez músicos contratados. Nosso foco é trazer o repertório erudito, mas, também, criar fusões com outras linguagens dentro da música. Temos três séries em andamento: série ‘Allegro’, série ‘Mundo’ e série ‘Didática’. Além disso, temos agora a nossa Escola de Música da Filarmônica de Alagoas, um projeto lindo e inovador que trará inúmeros resultados positivos para Alagoas. 

Quais os maiores trunfos da orquestra, e as maiores dificuldades (ou fraquezas)?

Martins — Orquestras são equipamentos culturais que demandam um orçamento enorme e em geral são subsidiadas pelo poder público. A diferença entra aí: filarmônicas são personalidades jurídicas privadas. Sinfônicas são mantidas pelo poder público. O nível técnico e número de instrumentos não muda de uma para outra. As orquestras privadas como a nossa possuem mais facilidade para acessar recursos provenientes de isenção fiscal e outros. Mas é difícil, sabe? Estamos com a nossa primeira lei de incentivo, antiga Rouanet, aprovada e prestes a iniciar a captação, mas ainda encontramos resistência para colocarmos nossos projetos em pauta — que não é a musical. É necessário um maior investimento do ente público e privado para que possamos dar passos maiores. As orquestras em geral possuem orçamento que variam de R$ 1 milhão a R$ 90 milhões anuais, como no caso da Orquestra Sinfônica do Estado de São Paulo, a Osesp.

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Quanto a você, como estudou e trabalhou sua formação de músico clássico e regente?

Martins — Difícil falar sobre isso, pois em geral não guardo vaidades sobre conquistas passadas. Sou fixado no que posso ainda colaborar para o futuro. Isso me fascina. Mas posso sim falar sobre isso. Meu início foi no canto coral e violão aos 11 anos. Fiz graduação em Música Licenciatura, pela Universidade Federal de Alagoas, e mestrado em Regência pela Universidade de Aveiro, Portugal. Fui violinista da Orquestra Sinfônica da Ufal e também tenho formação em canto lírico e violão. Atuei ainda como compositor, preparador vocal e diretor musical em diversos espetáculos musicais no Brasil e no exterior. Dessa lista sou muito agradecido pelo conhecimento que absorvi de mestres como Raul Munguia (EUA), Washington Oliveira (Alemanha/Brasil), Turíbio Santos, Davi Arontes (México), Simon Phipps (Suécia), Philip Lawson (inglaterra), Valéria Mattos, Mario Assef, Eduardo Morelembaum, Fábio Mechetti, Roberto Tibiriçá e Isaac Karabtchevsky. Em 2010 venci o Festival da Palavra com a música “A Trilha”, composição com letra de Gal Monteiro. Atuei como maestro e professor do Pronatec — Músico de Orquestra, entre os anos de 2011 e 2012. Fui maestro convidado da Orquestra Sinfônica da Universidade Federal de Alagoas durante os anos de 2013 e 2014, assumindo programas importantes para a temporada dessa orquestra. Andei por muitos lugares em busca de conhecimento, mas não só: eu queria entender como as pessoas ouviam e reproduziam música em outros países. Estive na Alemanha, Estados Unidos, Portugal, Chile. Em 2015 e 2020 estive em Cabo Verde, África — nessa oportunidade fui convidado pela Universidade de Cabo Verde para ministrar aulas de regência e conduzir concertos locais. Em 2019 recebi o prêmio e comenda Pe. Teófanes Araújo Barros, concedido pela Academia de Letras e Artes do Nordeste Brasileiro, pelo trabalho desenvolvido em Alagoas e no Nordeste.

Você compõe? Planos para isso?

Martins — Rapaz, tenho um número que nem sei mais de tantas composições e arranjos. Perdi a conta. Algumas são experiências sonoras e outras até podem ser gravadas. Estou me organizando para lançar umas coisas em breve.

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Já são três edições do “Cine Filarmônica''. Suponho que o projeto tem a mesma idade da orquestra.

Martins — O ‘Cine Filarmônica’ se tornou uma excelente ponte entre a música tocada por orquestra e o público sedento por ouvir clássicos do cinema. Uma combinação que tem dado muito certo e em geral com casa cheia. Um mérito coletivo acima de tudo. Em tempos tão sombrios e de falta de coletividade, as orquestras ressurgem, não como sinônimo de autoritarismo, mas como exemplo de coletividade.

E as outras orquestras, filarmônicas, em Alagoas? Você tem referências musicais neste nosso cenário, digamos, rarefeito…? Você é alagoano, de onde?

Martins — Sou alagoano de Maceió e filho de uma senhora de Marechal Deodoro. O universo da música para grandes grupos em Alagoas está mais restrito às bandas filarmônicas, que por sinal desenvolvem um trabalho maravilhoso junto às comunidades. As orquestras filarmônicas possuem uma formação um pouco diferente, principalmente com a junção do naipe das cordas (violinos, violas, cellos e contrabaixos). Mas sim, é preciso mais investimento nesse setor que ainda tem penado para conseguir sobreviver e trazer música para a população.

Uma segunda sessão dessa terceira edição do “Cine Filarmônica” é um comprovante do sucesso da Filarmônica de Alagoas, certo?

Martins — Sim. Nesta terça-feira, teremos esta reprise. O público comprou a ideia e nós agilizamos uma segunda sessão para quem não esteve no primeiro dia.

Quais as próximas atrações?

Martins — Temos tanta coisa programada. No dia 31 deste mês teremos a noite da ópera, abrindo a ‘Série Allegro’. Mas no decorrer dos meses teremos uma infinidade de concertos que vão desde a música erudita às fusões com os clássicos do rock em julho.