Especial

Ossos humanos de 'povos antigos' foram encontrados por arqueólogo da Ufal na Paraíba

Para Flávio Moraes, do Campus Sertão, achado é 'surpreendente'; segundo ele, 'não há nada no Nordeste que se assemelhe a esse material encontrado'

01 de Agosto de 2022, 11:46

Da Redação

Material ósseo humano com cerca de 1.600 anos foi encontrado no sítio Lajedo do Cruzeiro, no município de Pocinhos, distante 160 km de João Pessoa (PB). De acordo com o responsável pelas escavações, professor Flávio Moraes, do Campus Sertão da Universidade Federal de Alagoas (a Ufal), a descoberta, realizada em parceria com o arqueólogo Plínio Araújo Víctor, “é surpreendente”. Segundo Moraes, há poucas evidências arqueológicas nessa região, como as que foram achadas. “Aqui no Nordeste não temos nada que se assemelhe a esse material encontrado, em virtude da preservação associada às marcas de corte nos ossos humanos bem caracterizadas”, afirmou o pesquisador, que é doutor em Arqueologia.

As peças encontradas estão, segundo o pesquisador, em “excelente estado de preservação”. “Em sítios funerários, isso nem sempre é possível. Chama atenção o fato de se tratar de sepultamentos secundários, tendo sido verificados, até o momento, 12 indivíduos, sendo três adultos e nove não-adultos.”

Pesquisadores Plínio Araújo Victor e Flávio Moraes no sítio Lagedo do Cruzeiro, na Paraíba

De acordo com o arqueólogo, os corpos possivelmente foram desmembrados. “Há marcas de corte em ossos como escápula, ílio e púbis, bem como o corte total dos ossos longos, nomeadamente o rádio, na extremidade distal das diáfises [parte mais longa do osso].”

A Ufal informa, ainda, que nos ossos de indivíduos não adultos, “inclusive bebês de três e seis meses”, também foram constatadas marcas de corte de desmembramento, “especialmente, nos ossos longos”. “Isso diz muito sobre o ritual funerário desse grupo pré-histórico”, afirma Flávio Moraes. “Já enviamos amostras para datação para que pudéssemos ter esse recorte cronológico.”

Ossos desmembrados de crianças e adu: ritual funerário

Para o pesquisador, “os sítios funerários são notavelmente importantes para a Arqueologia”. “Cada detalhe”, diz ele, “nos informa acerca de um aspecto da vida deste grupo: a posição dos indivíduos na cova, a flexão do corpo, envoltório e objetos depositados junto ao morto, patologias ósseas. Já os adornos, dizem-nos sobre a sociedade, tais como diferenças hierárquicas, de gênero e etárias, sua simbologia, ou seja, como lidavam e ritualizavam a morte.”

Todo o material ósseo humano, segundo a Ufal “de valor histórico inestimável”, encontra-se no Núcleo de Pesquisa e Estudos Arqueológicos do Campus do Sertão. O município de Pocinhos está numa região “de grande potencial arqueológico”, afirma Moraes. “As principais evidências, até o momento, são os sítios de Arte Rupestre. Estes grafismos foram amplamente estudados e classificados como subtradição dos Cariris Velhos por Ruth Almeida, ainda na década de 1970.”