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Natal não é somente turismo de sol e mar

Prefeitura da capital potiguar aposta em sua 'força histórica e religiosa'; em visita à cidade você pode conhecer eventos e revoluções que marcaram o período colonial

03 de Agosto de 2022, 10:47

Da Redação

Assim como Maceió é chamada “o paraíso das águas”, Natal (RN) é conhecida como “a capital do sol”. Praias convidativas, passeios de bugue nas dunas e, novamente como a nossa Maceió, uma deliciosa e criativa gastronomia — especialmente quando o prato que desejamos é o camarão. Não é uma coincidência o gentílico potiguar dado aos nativos do Rio Grande do Norte. Em tupi-guarani, a palavra original poti'war significa “aquele que come camarão”, crustáceo encontrado com fartura no litoral do Estado.

“Mas a capital do Rio Grande do Norte não conta apenas com o turismo de sol e mar e o turismo de lazer”, observa o informativo da Secretaria de Turismo de Natal enviado à Redação. “Natal abriga e é palco de um cenário que no século 17, na invasão holandesa, causou a prisão do padre Ambrósio Francisco Ferro. O mesmo foi o segundo pároco do templo católico mais antigo da cidade, a Igreja Matriz Nossa Senhora da Apresentação, erguida na mesma data da fundação da cidade, no ano de 1599.”

Ostensorio encontrado na igreja matriz de Natal em 1994

Relatos históricos afirmam que o padre Ambrósio, receando que os holandeses destruissem todo o acervo da igreja, escondeu dentro de uma parede um ostensório, objeto litúrgico que funciona como suporte da Santa Hóstia em procissões, significando o corpo e sangue de Jesus Cristo. “O receio do padre Ambrósio se concretizou: com o domínio holandês no século 17, a igreja matriz se torna um templo calvinista”, destaca a Secretaria de Turismo, afirmando que no período de 1633 a 1654 os holandeses dominaram a Capitania do Rio Grande. “Naquela época Natal possuía apenas 40 casas. A Igreja  transformou-se em templo calvinista a partir do sermão proferido pelo pregador Johanna em 18 de dezembro de 1633.”

Português dos Açores, Padre Ambrósio foi levado para o martírio de Uruaçu, em 3 de outubro de 1645, juntamente com 80 fiéis de sua paróquia. É um dos santos mártires do Brasil, canonizado pelo Papa Francisco em 2017. 

Antes de serem expulsos da capitania em 1654, os invasores flamengos destruíram tudo o que puderam, inclusive os livros de registros referentes à Matriz de N.S. da Apresentação. “Neste caso”, informa o press-release, “o único registro histórico que a igreja possui é o ostensório que foi escondido pelo Santo Mártir Padre Ambrósio Francisco Ferro.”

O Museu de Arte Sacra é uma das atrações do centro histórico da capital potiguar

O objeto litúrgico foi encontrado em 1994, quando a igreja passou por uma reforma solicitada e acompanhada pelo pároco da época, monsenhor Agnelo Dantas Barretto. O ostensório foi encontrado próximo à pia batismal. Nesse processo, também foi encontrado o corpo de André de Albuquerque Maranhão.

“André de Albuquerque Maranhão, também conhecido como Andrezinho de Cunhaú, nasceu no Engenho Cunhaú, no atual município de Canguaretama”, destaca o informativo oficial, observando que se tratava do filho "de uma das famílias mais ilustres do Rio Grande do Norte". Segundo a prefeitura de Natal, Maranhão tinha "espírito revolucionário", comandando a Cavalaria que guardava as fronteiras entre Rio Grande e Paraíba. “Ele simpatizava com as revoluções de libertação da Coroa. Em 28 de março de 1817, juntamente com sua tropa, parentes e oficiais, ele chegou à cidade e implantou um governo provisório. Esse acontecimento se chamou Revolução Republicana de 1817, reflexo da Revolução Pernambucana que eclodiu no dia 6 de março, e ele foi o líder.”

Igreja e Convento de Santo Antônio: roteiro sagrado da cidade

Andrezinho de Cunhaú, entretanto, foi assassinado pelas tropas imperiais, que invadiram o palácio aos gritos de “Viva o Senhor Dom João 6º.” e “Morra a Liberdade”. Negando-se à rendição, Maranhão foi atingido por golpes de espada, que inclusive lhe cortou os dedos. “Foi então jogado pela janela do palácio e preso sozinho em uma cela na Fortaleza dos Reis Magos. Sem qualquer assistência médica, com ferimentos abertos e órgãos dilacerados, sangrou até morrer.”

O cadáver, desnudo, sofreu humilhação pública até ser sepultado na Igreja Matriz de Natal. Hoje, a praça no entorno do templo ganhou o nome dele. Neste mesmo local também há um monumento em sua homenagem. "Com essa grande força histórica e religiosa", afirma a prefeitura de Natal, "a Secretaria de Turismo elaborou um roteiro histórico e sagrado da cidade, apontando para suas três primeiras igrejas no centro histórico da capital."